domingo, 27 de julho de 2008

A LINHA MAGINOT






O dia 10 de Maio de 1940 marca o ataque alemão contra os aliados ocidentais. O objetivo é atacar a França e as forças expedicionárias britânicas que se encontram a norte. Mas em vez de atacar diretamente o território francês, os alemães vão evitar a linha Maginot, atacando diretamente a Bélgica e penetrando na floresta das Ardenas, que era vista pelos aliados como uma floresta densa e impenetrável, onde as estreitas estradas impediam (achavam os generais franceses) a operação de forças inimigas.

A linha Maginot

Durante os anos 30, a França tinha assumido um posicionamento completamente defensivo relativamente à Alemanha e isso levou a construção de uma impressionante e caríssima linha de defesas, conhecida pelo nome do Homem que a promoveu, Andre Maginot.


Maginot era um político francês, cuja desconfiança da Alemanha cresceu com o tempo. É ele que dirige a faz pressão política para que a França construa a linha de defesa na fronteira entre os dois países, linha que será aprovada pelo orçamento francês de 1930. A linha Maginot defenderia a França da Alemanha, e, além disso, por estar construída na Alsácia Lorena, garantiria que aquela parte do território não mais cairia em mãos alemãs.

A linha Maginot era uma linha defensiva poderosíssima, mas foi construída desde a fronteira suíça para até norte, chegando apenas ao ponto em que se juntam as fronteiras da França da Alemanha e da Bélgica e Luxemburgo.

Durante os anos 30, ocorreram negociações entre franceses e belgas, sobre a possibilidade de construir defesas comuns a belgas e franceses, prolongando a linha Maginot pela Bélgica integrando as fortalezas belgas da linha Namur-Liege-Antuérpia, mas problemas políticos, especialmente o receio belga de afrontar a Alemanha levaram a atrasos nas negociações. Os franceses optaram então por prosseguir a sua linha defensiva entre a fronteira belga e francesa, mas essa linha, cuja construção sofreu atrasos, nunca atingiu o nível de eficácia da linha fortificada que separava a Alemanha da França.

A 10 de Maio de 1940, a Alemanha efetua uma operação relâmpago, destinada a ultrapassar o problema levantado pela linha Maginot. Embora ocorressem ataques diretos sobre a linha, o principal ataque alemão ocorreu imediatamente a norte do sector onde terminava a parte mais fortificada da linha Maginot e onde tinha inicio a linha ainda pouco fortificada cuja construção tinha sido iniciada demasiado tarde.

Os belgas, que tinham tentado manter a sua neutralidade, são fortemente atacados, exatamente naquele que consideravam ser o seu mais importante ponto defensivo, o forte de Eben-Emael, construído entre 1932 e 1935, com características idênticas aos fortes de linha Maginot. O forte estava preparado para se defender de infantaria e veículos, numa guerra de trincheiras, mas tinha uma única arma antiaérea. Um ataque de pára-quedistas alemães toma no primeiro dia do ataque, o mais importante ponto de defesa.

A Holanda foi igualmente atacada por grande número de forças aerotransportadas, que agindo na retaguarda, provocaram um caos completo quer entre holandeses quer entre belgas. Mas quer a Bélgica quer a Holanda não foram atacadas por grandes unidades blindadas alemãs, as quais estavam secretamente na região das Ardenas.

Portanto, as operações contra a Holanda e o ataque a Eben-Emael foram operações secundárias, dado que o grosso das tropas alemãs, estão no sector central e avançam com especial vigor na região das Ardenas, julgada uma floresta intransponível, e defendida apenas por tropas de segunda linha.

Enquanto que as forças francesas e as duas divisões britânicas a norte, avançam para apoiar a defesa da Bélgica, mais a sul, os alemães, atravessando as Ardenas, vão aparecer em Sedam.

Em apenas três dias, as tropas alemãs, com as divisões Panzer à cabeça, ultrapassam a linha de florestas das Ardenas, atingindo o rio Mosa (Mosel) a 13 de Maio. Quando isso acontece, e as notícias chegam a Paris de que os alemães conseguiram chegar à cidade de Sedan a 15 de Maio, é o pânico nas estradas francesas. Atingindo Sedan, as velozes unidades blindadas alemãs inflectem para norte, com o objetivo de cortar em dois as forças aliadas. O novo primeiro ministro da França telefona de urgência a Churchil e comunica-lhe que a frente foi quebrada. Pede aos britânicos que enviem mais reforços e especialmente aeronaves para tentar reduzir a supremacia aérea dos alemães, mas os britânicos recusam engajar na luta as suas reservas de caças, temendo que viessem a fazer falta mais tarde para defender a própria Grã Bretanha.

Os britânicos, porém, continuarão a enviar tropas para França, pois até Junho ainda vão enviar mais uma divisão para território francês.

Os reforços britânicos não vão servir de muito. Os franceses não conseguem evitar o avanço dos blindados alemães para norte até ao canal da mancha.

Em 20 de Maio, apenas 10 dias depois do inicio da operação, as tropas avançadas das divisões blindadas do general Guderian atingem o canal.

As divisões britânicas e parte do exército francês estão agora isoladas do resto das forças francesas.

A 21 de Maio os britânicos e franceses tentam cortar o cerco atacando em Arras e Cambrai, numa operação arriscada que por sua vez poderia (se tivesse sucesso) cortar os abastecimentos das linhas avançadas alemãs.

Sem conseguir resistir as forças aliadas retiram para Dunquerque a 26.A 28 de Maio 350.000 homens estão cercados em Dunquerque pelos alemães, aguardando evacuação.

A artilharia britânica utiliza todas as suas munições disponíveis para impedir o avanço alemão. Na Grã Bretanha é feito um apelo a todos os pescadores e a todos os donos de qualquer coisa que flutue, para que façam pelo menos uma viagem até às costas de Dunquerque para evacuar soldados.

Os alemães estão também desorganizados, os seus avanços ocorreram em toda a linha e necessitam tempo para evitar que as suas próprias linhas de abastecimento entrem em colapso. Esses dias de reorganização serão vitais.

Entre 28 de Maio e 4 de Junho, são evacuados 300.000 homens. Só no dia 31 de Maio são evacuados 68.104 soldados. Em 1 e 2 de Junho, com as forças reorganizadas, a artilharia e a força aérea alemãs atacam furiosamente as praias de Duquerque. A 4 de Junho, o contratorpedeiro Shikari, abandona a praia, com as últimas forças evacuadas. A 10 de Junho a Itália declara guerra à França.

A evacuação das forças britânicas, e a recusa destes em enviar mais aviões da R.A.F. para tentar combater a Luftwaffe, têm um peso psicológico tremendo. Os franceses acham-se traídos e abandonados pelos britânicos. No entanto, desde a retirada de Dunquerque até ao armistício, continuarão a luta contra os alemães e resistirão ainda às tentativas de avanço de quatro exércitos italianos.




A Linha Maginot (francês ligne Maginot) foi uma linha de fortificações e de defesa construída pela França ao longo de suas fronteiras com a Alemanha e a Itália, após a Primeira Guerra Mundial, mais precisamente entre 1930 e 1936.

O termo linha Maginot designa às vezes o sistema inteiro, e às vezes unicamente as defesas contra a Alemanha. As defesas contra a Itália são chamadas linha Alpina.

O complexo de defesa possuía várias vias subterrâneas, obstáculos, baterias blindadas escalonadas em profundidade, postos de observação com abóbadas blindadas e paióis de munições a grande profundidade.

O primeiro a propor a construção de um sistema de defesa ao longo da fronteira alemã foi o Marechal Joffre em 1927. O princípio da linha Maginot, batizada com o nome do ministro da Defesa francês André Maginot (1877-1932), veterano mutilado da guerra de 1914-1918, foi debatido na França durante quase 10 anos pelo Conselho Superior de Guerra, sob a presidência do marechal Pétain. Os planos definitivos foram aprovados em 1929 por Paul Painlevé, então ministro da Guerra.

Neste mesmo ano, o Parlamento votou um primeiro financiamento de mais de 1 bilhão de francos franceses, e os trabalhos começaram em 1930. Os trabalhos foram realizados pela STG (Section Technique du Génie), sob a supervisão da CORF (Commission d'Organisation des Régions Fortifiées). Maginot tornou-se ministro da Guerra em 1929 e foi um ardente defensor da fortificação, mas morreu de intoxicação alimentar por ostras em 1932 e jamais pôde ver realizado seu grande sonho de defesa.

A maior parte dos trabalhos estava terminada em 1936, no momento em que a ameaça hitlerista parecia lhe dar toda a justificação de que precisava: era a mais formidável linha defensiva militar jamais construída no mundo, e era de grande complexidade tecnológica e militar. Seu custo total foi de 5 bilhões de FF (da época). Planejada durante a década de 20, a linha Maginot foi pensada para "guerra de trincheiras". Com suprimentos próprios de energia, munição e alimentos, a linha era uma série de fortalezas e estruturas interligadas, paralela à fronteira franco-germânica. Era composta de 108 edificações principais (fortes) a 15 km de distância uns dos outros, mais edificações menores e casamatas, e mais de 100 km de galerias.

O ataque alemão

A linha Maginot não evitou a derrota da França no início da II Guerra Mundial em 1940, na medida em que as divisões alemãs a contornaram atacando a região de Sedan, além da sua extremidade oeste. Os exércitos aliados foram, assim, cortados ao meio: uma parte das tropas francesas, inglesas e belgas foram cercadas e empurradas até as praias de Dunquerque, para onde os britânicos enviaram centenas de embarcações para recuperar os soldados presos nessa armadilha, no que ficou conhecido como a Operação Dínamo. As tropas do leste e regimentos dispostos atrás da linha ficaram presos entre a fronteira alemã e as divisões mecanizadas alemãs, que haviam alcançado a fronteira suíça.

No início de junho as forças alemãs já haviam isolado a linha do resto da França, e o governo francês já dava sinais que aceitaria um armistício, que foi assinado em 22 de junho em Compiègne. Mas a linha ainda estava intacta e ocupada por um número considerável de oficiais desejando manter a posição e continuar a guerra; o avanço italiano foi contido com sucesso. Ainda assim, Maxime Weygand assinou a rendição e as tropas foram feitas prisioneiras.

Um erro estratégico

A principal razão para a falha da linha Maginot é o fato de não se estender até ao Mar do Norte. Por diversas razões, entre as quais a falta de tempo e de financiamento, a sua construção foi interrompida a 20 km a leste de Sedan, em Montmédy, fazendo face à fronteira alemã, ao Grão-Ducado de Luxemburgo e a uma parte da fronteira franco-belga. O segmento Longuyon-Lauterbourg era particularmente reforçado, com edificações equipadas de artilharia pesada, enquanto que as defesas do Reno e a oeste de Longuyon eram menos fortes. Certas partes não haviam recebido o equipamento que lhes era destinado no momento da declaração da guerra. Além disso, a neutralidade da Bélgica confortava os argumentos daqueles que não acreditavam em uma ofensiva inimiga a oeste da linha Maginot.

Foi assim que se desenvolveu um sentimento de segurança com a linha Maginot, onde praticamente cada francês estava convencido de que estava protegido de toda agressão alemã. No entanto, era preciso ser ingênuo ou incompetente para imaginar que a linha pudesse resistir suficientemente a um ataque violento e localizado, apoiado pela artilharia pesada e pela aviação moderna. Sem contar com a tática alemã do Blitzkrieg e de contornamento da linha pelas Ardenas. No pior dos casos, a linha poderia conter um ataque surpresa frontal durante o tempo necessário à França para organizar uma mobilização geral.

Neste contexto, os pedidos ansiosos do general De Gaulle e de Paul Reynaud em 1935 em favor do desenvolvimento de divisões blindadas para assegurar a defesa do território não coberto pela linha Maginot faziam sentido, mas não foram ouvidos. O general Maurin, então ministro da Guerra, durante um debate no Parlamento, respondeu a Paul Reynaud : « Como se pode ainda pensar em termos de ofensiva quando gastaram-se bilhões para estabelecer uma fronteira fortificada ? »
No dia seguinte a essa brilhante declaração, Hitler rasgava simbolicamente o tratado de Versalhes e instituía a conscrição compulsória para 500 000 homens.

A linha depois da II Guerra Mundial

Após a guerra, a linha foi novamente ocupada pelos franceses e beneficiou de algumas modificações. Entretanto, quando a França se retirou da OTAN (em 1966), grande parte das fortificações foram abandonadas. Com o crescimento do política nuclear independente francesa em 1969, a linha foi abandonada pelo governo, com seções postas em leilão público e o resto abandonado.

O termo "Linha Maginot" tem sido usado como metáfora para algo em que se confia apesar da sua ineficiência. Na verdade, ela fez exatamente aquilo para o qual fora planejada, protegendo uma parte da França e forçando o agressor a contorná-la (e os poucos fortes da linha Maginot que foram atacados pelos alemães resistiram muito bem). Como planejada inicialmente, a linha Maginot era parte de um largo plano de defesa, no qual os agressores deveriam encontrar tropas de resistência francesas, mas o planejamento falhou estrondosamente, fazendo com que a linha perdesse completamente sua razão de ser.

Hoje em dia, associações voluntárias restauraram grandes setores da linha, abrindo-a à visitação pública, o que atrai muitos turistas à região. Passear pelos túneis e visitar os quilômetros de galerias, fortificações e as diversas dependências (quartos de dormir, cozinhas, enfermarias, arsenais, linhas férreas, etc) é uma experiência enriquecedora.

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